"Cubatão resgata a memória da imigração judaica, definitivamente, na semana que vem. O Cemitério Israelita, abrigado dentro do Cemitério Municipal será tombado como patrimônio histórico da cidade, através da assinatura do decreto pela Prefeita Marcia Rosa. A solenidade será dia 25/8 (quarta-feira) às 14h, e logo após, será realizada uma visita até o Cemitério Israelita. Este promete ser o pontapé inicial de um processo que não se limita à uma lei, mas abrange também um programa de educação patrimonial, com reabertura do espaço para visitação pública com monitores e inclusão em roteiros históricos.
O tombamento é resultado do esforço do Condepac, Conselho de Defesa do Patrimônio Artístico de Cubatão e tem total apoio da Chevra Kadisha, Associação que administra os cemitérios israelitas no estado. O local tem 800 metros quadrados e 75 sepulturas feitas em granito (55 de mulheres e 20 de homens), sendo que a lápide mais antiga data de 1924 e a mais recente é de 1966. A curiosidade habita no fato de lá estarem enterradas em sua maioria, as chamadas “polacas”, mulheres judias que no início do século XX deixaram o leste europeu atingido pelo anti-semitismo em direção à América com a promessa de casamentos, mas acabaram sendo exploradas na região.
Este será o segundo cemitério israelita considerado patrimônio histórico no Brasil e o primeiro tombado definitivamente. O Cemitério Israelita de Inahúma, no Rio de Janeiro, foi tombado provisoriamente em 2007, segundo Beatriz Kushnir, historiadora e Diretora do Arquivo Geral da Prefeitura carioca. Ela também estará aqui em Cubatão para participar da assinatura do decreto. Beatriz escreveu o livro "Baile de Máscaras: mulheres judias e prostituição" em que defende o resgate cultural da história dessas mulheres. O "campo-santo" de Cubatão também está presente nas páginas da publicação.
Há 22 anos debruçada e envolvida por essas trajetórias, Beatriz Kushnir recebeu com entusiasmo o convite para estar presente na assinatura do decreto e considerou ótima a possibilidade de abertura do Cemitério à visitação pública. "Achei fantástico! É uma ideia a ser copiada por vários outros cemitérios pelo país, independentemente da peculiaridade que possuem. Fiz um passeio destes em New Orleans, nos Estados Unidos, e em Praga, na Europa, e foram muito interessantes nos aspectos de arquitetura e de traços culturais", comentou a historiadora.
Beatriz Kushnir conta que em 1988, quando a pesquisa sobre as "polacas", era um tabu mencionar essa história. Interessante é verificar como um trabalho acadêmico pôde interferir e transformar uma realidade. Mas, segundo Beatriz, "conhecer as identidades dessas mulheres e das outras pessoas sepultadas nesses 'campos-santos' só faz sentido quando sabemos de quem estamos falando. Mais do que apenas nomes, são histórias de vida. Repito, então, as palavras do rabino Sobel, torcendo para que estas sejam palavras proféticas em Cubatão: rezamos hoje 'El malê rachamim' em memória das mulheres sepultadas nesta área do cemitério. Que cada uma delas descanse em paz", encerra".
Texto: Morgana Monteiro
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